quarta-feira, 11 de novembro de 2015

O espetáculo que se esquece que é desporto

A Champions é um autêntico sucesso comercial
O futebol, hoje em dia, é cada vez mais um espetáculo. Os jogadores são vistos como autênticas estrelas, que dão a cara (a troco de muito dinheiro) para promover determinada marca. Os clubes, sobretudo os de maior dimensão, são muito mais do que tecidos no movimento associativo: vendem caro bilhetes para os jogos da equipa principal, atraem patrocínios e aproveitam qualquer acessório para encaixar uns euros em venda de merchandising. As federações, ligas e até as associações internacionais, como a UEFA e a FIFA, são muito mais do que organismos que tutelam o futebol continental e mundial: são atualmente multinacionais de organização de eventos.

Por despertar tanta atenção mediática, o futebol não podia esgotar-se no que se faz dentro das quatro linhas durante 90 minutos. Nas vésperas de um jogo, há conferências de imprensa, recordam-se confrontos anteriores entre as duas equipas e fala-se de quem pode ou não jogar. Depois, as entrevistas rápidas, novamente as conferências de imprensa, os programas de debate e durante a semana assiste-se ao exaltar do sucesso dos clubes e jogadores ou, no reverso da medalha, à tentativa de apurar as causas e os culpados dos maus resultados.

Com tantos canais televisivos abertos a transmitir partidas de futebol, há muito que os principais encontros de uma jornada deixaram de se disputar há mesma hora, por vezes estando até dependentes dos horários de partidas internacionais que podem roubar protagonismo. Por isso, raramente se vê Sporting, Benfica e FC Porto a atuar à mesma hora ou até no mesmo dia.

O mesmo se aplica no calendário internacional. As jornadas da Liga dos Campeões estão divididas entre os blocos de jogos de terça e quarta-feira, e as da Liga Europa entre os das 18:00 e 20:05 de quinta-feira. Este ajustamento permite a que o adepto possa assistir a, no mínimo, quatro desafios em três dias. E digo no mínimo porque, devido à diferença horária, os encontros disputados na Rússia, Azerbaijão e Cazaquistão iniciam-se, por norma, mais cedo que os restantes.

Do ponto de vista do adepto e da venda do futebol como espetáculo, é o cenário perfeito. Mas o futebol não se pode esquecer que, mais do que um espetáculo, é sobretudo um desporto. E sendo um desporto, convém não cair no esquecimento que os protagonistas são, acima de tudo, desportistas, que se devem apresentar num jogo ao mais alto nível.

No mundo da música, é comum ver bandas/artistas em digressões onde têm de atuar um elevado número de vezes num curto espaço de dias. O espetáculo do futebol tende a seguir esse caminho.

Calendário apertado tem prejudicado ingleses na UEFA
Olhemos para o que aconteceu com o Sporting na semana passada: Jogou na Albânia na quinta-feira das 20:05 até às 22:00 e iniciou a partida em Arouca, no domingo, às 20:30, não completando as 72 horas de descanso. Pelo meio, chegada a Lisboa na sexta de manhã cedo e treino no sábado, antes de seguir novamente viagem. Porque não a partida na segunda-feira? Porque os leões têm no seu plantel jogadores que se tiveram de apresentar nesse mesmo dia na seleções nacionais, algumas nos quais concentradas noutros continentes.

Jorge Jesus optou por apresentar um onze diferente em cada um dos jogos, mas e se não o tivesse feito? Teria a equipa capacidade física para dar boa resposta no relvado algo pesado do Municipal de Arouca? Teria argumentos para marcar nos últimos minutos?

Benfica e FC Porto, que tinham jogado para a Liga dos Campeões na terça e na quarta, respetivamente, só disputaram os seus encontros do campeonato no domingo. Os encarnados, inclusivamente, realizaram as duas partidas no Estádio da Luz. Noutras semanas, o prejudicado pode até ser outro, mas não porque haja alguém que se preocupe com isso.

É caso para perguntar: onde está a verdade desportiva? Além de promover espetáculos, que fazem as entidades que regem o futebol para que duas equipas (ou dois adversários diretos, em partidas diferentes) entrem em campo em igualdade de circunstâncias?

Dirão que em Inglaterra o calendário é bem mais apertado, mas convém recordar que por algum motivo (entre os quais o do pouco tempo de descanso) os clubes ingleses, com a notoriedade, orçamentos gritantes e condições de trabalho fantásticas de que dispõem, não têm conseguido ombrear com Real Madrid, Barcelona e Bayern na luta pela Liga dos Campeões. A Premier League é colossal, mas nem tudo o que se faz em terras de sua majestade serve de exemplo… pela positiva.






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