segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Ricas ligas, pobres seleções


Seleção russa tem a presença no Euro-2016 em risco
No final de maio, a poucos dias do final do campeonato clausura no México, em representação d’A BOLA entrevistei Pedro Caixinha, que havia de se tornar campeão pelo Santos Laguna.

Durante a conversa, o treinador natural de Beja, 44 anos, teve um raciocínio interessante sobre o desenvolvimento do jogador mexicano. Disse-me que os futebolistas não saem do país porque recebem bons salários, ficam-se pela zona de conforto e não experimentam os campeonatos europeus, mais competitivos, e por isso, não evoluem tanto.


É verdade que o México até nem é o exemplo mais gritante, porque na Europa estão Guardado, Herrera, Chicharito e Carlos Vela, e porque la tricolor recentemente conquistou a Gold Cup. Ainda assim, e se isso se sente naquele país, imagine-se que seleção poderia ter aliando um campeonato interno que tem um nível competitivo bastante razoável – o Tigres, por exemplo, chegou à final da Libertadores – a um potencial maior leque de emigrantes nas cinco principais ligas europeias.

E se o exemplo mexicano pode até nem ser o melhor, pensemos nos casos da Rússia, Turquia e até da Ucrânia. Quando falamos futebolisticamente nestes países, associamos a campeonatos cujos clubes têm grande poder de compra e a seleções que vão desiludindo. Parece contraditório, não é? Mas não, os dois fatos estão umbilicalmente ligados.

Os jogadores russos, turcos e ucranianos também têm bons salários nos seus países, estão perto da família, na zona de conforto e são raros os que experimentam emigrar para Inglaterra, Alemanha, Espanha, Itália e França. Não participando semanalmente em jogos de ligas tão competitivas, não evoluem tanto e as seleções ressentem-se, mesmo que o trabalho de base tenha alguma qualidade.

Há quem veja a coisa por outro prisma. Esta temporada na Rússia, por exemplo, o número mínimo de jogadores russos obrigatórios em campo (ao mesmo tempo) aumentou de quatro para cinco. Uma medida que muito desagradou a André Villas Boas, técnico do Zenit, que tem sido obrigado a fazer sentar no banco alguns dos seus craques estrangeiros (Danny que o diga…). Talvez um dia se apercebam que estão enganados, quando a seleção continuar a falhar fases finais ou a desiludir quando nelas participa e, em simultâneo, o campeonato se tornar menos apelativo.

Mas ainda consigo dar um exemplo melhor: o angolano. Angola tinha, até há poucos anos, a melhor seleção dos PALOP. Porquê? Porque a grande maioria dos seus internacionais atuava em Portugal. Lembro-me de Mantorras, Figueiredo, Kali, João Ricardo ou André, entre outros.

Cabo Verde é 27.º no Ranking FIFA; Angola é 92.º
Hoje em dias as coisas mudaram. O Girabola tornou-se um campeonato apelativo do ponto de vista financeiro, os angolanos não se sentem obrigados a emigrar e, tanto assim que é, que já são alguns portugueses que vão para lá jogar. Portugueses e não só. Lembremo-nos de Rivaldo, que passou pelo Kabuscorp, em 2012, já no final da carreira.

Por sua vez, Cabo Verde, que tem um campeonato pobre e praticamente desconhecido, apresenta a esmagadora maioria dos seus internacionais nos campeonatos europeus, sobretudo em Portugal. Há Ryan Mendes, Héldon, Zé Luís, Babanco e Fernando Varela, entre outros, a desenvolverem-se no velho continente. Não é por acaso que hoje tem, sem dúvida alguma, a melhor seleção dos PALOP.

Por fim, resta-nos agradecer o facto de termos um país pobre e futebolistas com qualidade e espírito de emigrante para Figo, Rui Costa, Fernando Couto, Nani e Cristiano Ronaldo nos terem dado algumas alegrias. 


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